Outubro, 2021.
Expor-se, contar sua história, defender uma causa. Vivemos um tempo em que assumir um posicionamento, seja ele político ou social, aparece quase como uma obrigação urgente. Exposições apaixonadas, sinceridade eloquente e muita vontade de imprimir ideias e reflexões, como nunca se viu, alastrando uma chuva de opiniões de forma global e instantânea.
Este seria o cenário perfeito para concluirmos que finalmente todos tem “lugar de fala” e a comunicação conquistou a popularidade que sempre mereceu. Será? Como as pessoas estão lidando com toda essa liberdade de manifestação de pensamento?
Na contramão dessa via percebemos o reflexo causado por tanta sinceridade descuidada e falta de empatia: para alguns restou calar-se ou temer demonstrar suas convicções; já outros deixam estampada a falta de discernimento que transforma o que poderia ser uma contribuição em um julgamento cruel – extremos de sentimentos. Mas essa é a realidade e temos que conviver com esse panorama.
Trazendo para o ambiente profissional, pode-se questionar como essa nova dinâmica se instala, se esse comportamento expressivo tem espaço dentro das empresas e se contribui para a performance das equipes.
Neste ponto o tema Segurança Psicológica pode ajudar muito a explicar como o ser humano tem conseguido viver nesse meio, lidando com as expectativas externas e internas, numa tentativa de equilibrar sentimentos, atitudes e performance. Amy Edmondson, estudiosa do comportamento organizacional e liderança, tem desenvolvido vários trabalhos acerca da importância da segurança psicológica para equipes de alta performance, em especial na sua obra de 2018 The Fearless Organization: Creating Psychological Safety in the Workplace for Learning, Innovation, and Growth. (John Wiley & Sons).
O conceito traz a ideia de que quando tiramos o peso pessoal e emocional das situações de conflito, fica mais fácil transformar as argumentações em algo produtivo e construtivo, enfraquecendo o apelo competitivo, que pode muitas vezes dar a sensação de que a opinião de alguém não é inteligente ou está sendo ignorada. E é nesse momento que podem aparecer os comportamentos de calar-se, ofender-se ou tornar-se agressivo. Aqui lembramos que, ao estudar sobre como expressar um feedback de maneira construtiva, encontramos exatamente estas atitudes retratadas em respostas de indivíduos que recebem uma informação avaliada como desagradável – negar, anular, justificar ou rebater, demonstrações claras de uma situação de não aprendizagem.
Diferente do conceito de Inteligência Emocional, cuja abordagem foca a reação a certos comportamentos, a Segurança Psicológica trata como o grupo interage frente a situações de questionamento, erro e contribuição. É fato que nos sentimos seguros quando percebemos que há transparência em um dado ambiente ou relação, não há surpresas em relação a sermos aceitos pelo que vamos compartilhar, temos certeza de que o respeito prevalecerá, ratificando a nossa confiança.
Então o que faz de um ambiente tóxico ou não seguro? A toxidade se manifesta quando:
Ganhar/perder está acima do aprender;
Cerceamento de argumentação;
Falta de empatia;
Medo de demonstrar dúvida ou erro;
Falta de interesse nas pessoas, situações e novas ideias;
Humilhação, desprezo e sarcasmo como resposta à expressão de opinião.
Se pensarmos que um ambiente tóxico cria equipes que temem o erro e a dúvida, já vemos eliminada a possibilidade de aprendizagem, mudança e evolução. Adicione-se a isso comportamentos agressivos de demonstração de força e, por outro lado, falta de iniciativa, proatividade e independência. Provavelmente esta equipe falirá enquanto time, este gestor estará isolado e o projeto não prosperará.
Criar um ambiente de Segurança Psicológica e estimulante para o time significa despertar o sentimento de engajamento e confiança, possibilitando o aprendizado constante, promovendo a evolução das pessoas, das relações, dos processos e do negócio. Assegurar às pessoas que não há necessidade de esconder os erros e as dúvidas, traz a tranquilidade de expor e, ao mesmo tempo, o senso de urgência que requer a evolução de uma equipe ágil. Se aprender faz parte do ambiente, todos sabem que detém o papel de contribuir, questionar e construir, através de uma comunicação clara, comprometida e empática.
Por fim, a Segurança Psicológica auxilia o relacionamento saudável entre as pessoas, permitindo também que a demonstração de fragilidade não prejudique as interações no time e com o líder, mas sim favoreça o sentimento de gratidão e pertencimento.
Claudia Cruz Gestora da equipe de Gestão de Pessoas na ABordin
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